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Nota Oficial do Campus Curitiba da UTFPR

Nota Oficial do Campus Curitiba da UTFPR

Publicado 5/14/2020, 3:36:20 PM, última modificação 11/12/2022, 8:08:25 PM

A direção do campus Curitiba da UTFPR, em consonância com suas atribuições regimentais, vem, por meio desta, posicionar-se quanto ao desenvolvimento de atividades didáticas não presenciais nos moldes apresentados pelo Conselho de Graduação e Educação Profissional (COGEP) da Instituição.

Em primeiro lugar, devemos considerar que temos a educação como direito fundamental assegurado pela Constituição Federal e que deve ser garantido a todos em condições de igualdade de acesso e permanência dos estudantes nesse processo.

Neste sentido, entendemos ser fundamental manter padrões de qualidade de ensino, garantindo ao estudante os insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, seja ele presencial ou não.

Sabemos que um percentual significativo de nossos alunos apresenta algum grau de vulnerabilidade social, o que coloca em risco essa parcela de discentes quanto ao acesso às ferramentas adequadas de ensino/aprendizagem fora do ambiente da universidade, bem como ameaça o bom aproveitamento dos conteúdos ministrados.

Entendemos também que existem dificuldades didáticas de um grande número de nossos professores no que se refere ao ensino remoto, uma vez que não foram talhados para essa prática e não prepararam as aulas presenciais com vistas a essa forma de alteração. Isso impacta sobremaneira no processo de ensino/aprendizagem. Além disso, neste período de pandemia, boa parte do corpo docente mantém suas atividades de pesquisa, extensão e orientação de TCC’s, monografias, dissertações e teses.

Sobre a formação de nossos professores para atuarem no formato remoto para o ensino/aprendizagem, vale destacar que o campus Curitiba, por meio de sua DIRGRAD/DEPED/COTED, antecipando a necessidade de gerar confiança entre os professores para a aplicação de atividades remotas (uma vez que, notadamente, em nossa Instituição, o Ensino a Distância – EaD não é prioridade), entendeu ser adequado, primeiramente, ofertar oficinas e workshops de ambientação digital para estimular a troca de conhecimentos digitais e metodologias entre os professores. E, diga-se de passagem, estas atividades estão sendo um grande sucesso. Quer dizer, os docentes estão trabalhando, e muito, neste período.

Adicionalmente, faz parte do planejamento desta gestão fortalecer, de fato, o trabalho com EaD no Campus, o que pode ser verificado com as mudanças realizadas na COTED desde o início deste ano. Porque compreendemos a importância desse formato de ensino/aprendizagem como complementar aos espaços de aulas presenciais, em uma sociedade que tem disponível considerável número de recursos tecnológicos digitais para comunicação à distância. Assim sabemos que, para operacionalizar o ensino remoto (por si só, de certa maneira já incompleto, por não prever tutorias, como no EaD), é necessário que a Instituição tenha um padrão para uso das plataformas de ensino online e das redes sociais pelo corpo docente, e que os roteiros de aula, exibições de vídeos autorais e/ou lives, para comunicação com os estudantes, tenham claramente dada a Identidade e a missão da Universidade. Ainda é preciso prever meios para termos feedbacks do corpo docente e discente e variar a didática e metodologia, a fim de gerar sensação de pertencimento ao grupo ou à turma, com espaços para discussão entre alunos e professores. Caso contrário, sem esse engajamento, não se sustenta o argumento de que essa modalidade de ensino ajudaria a diminuir os problemas de saúde mental causados pelo isolamento social. Para isso, as aulas devem ser pensadas no sentido de permitir a sensação de pertencimento social.

Diante desses aspectos rapidamente observados, bem como cientes dos resultados das sondagens feitas pela Pró-reitoria de Graduação e Educação Profissional (PROGRAD) e das pesquisas realizadas pelos Centros Acadêmicos dos Cursos e pelo Diretório Central dos Estudantes, além dos recentes pronunciamentos oficiais da Comissão Permanente de Promoção de Saúde Mental e Qualidade de Vida (UTFPR Vida) e dos representantes discentes desta comissão, podemos vislumbrar uma imensa chance de evasão escolar e da exclusão deliberada de parte dos estudantes do processo de ensino/aprendizagem se não ampliarmos as reflexões sobre o assunto antes que se imponham pseudossoluções.

Assim, respeitosamente defendemos:

a)         Que a implantação de qualquer modalidade de ensino à distância, mesmo que renomeado como “atividades didáticas não presenciais” ou “atividades de ensino remoto” ou qualquer outro nome que se dê a essa ação de ensinar de modo mediado por ferramentas digitais para comunicação, seja precedida de um planejamento detalhado, que considere as particularidades de alunos, professores e dos próprios campi;

b)         Que seja realizada, após esses estudos, formação específica para docentes, discentes e técnicos administrativos que estarão envolvidos diretamente com essa prática; e

c)         Respeitada a liberdade de cátedra, que não se delegue a responsabilidade de realizar o ensino remoto unicamente aos professores e alunos, agravando uma situação que já é difícil devido à pandemia, sendo esta a missão da PROGRAD e de toda a equipe que compõe a Reitoria da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Registre-se, por oportuno, de acordo com informações extraídas do portal do MEC (link: http://portal.mec.gov.br/coronavirus/), com acesso em 08/05/2020, que 62% das universidades federais brasileiras estão com as atividades suspensas por prazo indeterminado, 86% delas (59 universidades) estão com suspensão total na graduação (presencial e EAD), e apenas 8% (seis universidades) estão com atividades via TIC/remotas, não se sabendo se são aulas ou outro tipo de atividade.

Da forma como se apresenta hoje a proposta de ensino remoto, somos obrigados a nos posicionar de modo contrário ao que está sendo apresentado pelo Conselho de Graduação e Educação Profissional e, ao mesmo tempo, recomendamos que seja analisada a possibilidade de termos atividades de extensão oferecidas por professores dispostos a preparar materiais para o ensino/aprendizagem por meios remotos. Cursos, disciplinas, oficinas ofertadas como extensão não pressionariam os docentes e discentes que não têm condições tecnológicas e/ou psicológicas a realizarem atividades não presenciais. Inclusive proposta neste sentido foi apresentada por um dos nossos conselheiros na última sessão do COGEP. Por outro lado, oportunizaria àqueles que desejam atuar mais intensamente, neste momento, realizar atividades variadas. Um trabalho conjunto entre DIRGRADs, DIRPPGs e DIRECs poderia operacionalizar meios para validação de tais atividades em disciplinas curriculares ou enriquecimento curricular, na sequência da retomada nas aulas presenciais, nas quais, todos os alunos manteriam o seu direito à EDUCAÇÃO de qualidade em uma Universidade Pública.

Restam as perguntas:

1) qual a razão para, a qualquer custo e de forma desordenada, insistirmos em criar uma situação que transpareça um caráter de normalidade no funcionamento da Instituição, mesmo com a pandemia da COVID-19 avançando em plena escalada?

2) de quem será a responsabilidade pela situação de exclusão de uma grande parcela do nosso corpo discente das atividades de ensino remoto propostas?

3) quem se responsabilizará pelos transtornos na saúde mental de docentes e discentes por serem pressionados a trabalhar com um material não planejado em um momento no qual deveríamos nos unir em favor à saúde de todos?

Curitiba, 14 de maio de 2020.

Direção-Geral do campus Curitiba

Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

Originalmente publicado em:

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