Rita Berardi é como um axioma da matemática
Muitos diriam que Rita Cristina Galarraga Berardi era uma criança corajosa. Na escola, encarava a matemática de frente e gostava da disciplina. Haja coragem, certo? Errado! Para além de corajosa, Rita era curiosa. E ainda é. Sua curiosidade a levou do interior do Rio Grande Sul ao Rio de Janeiro e até à Alemanha. O motivo? A matemática, mas especificamente a computação. Tudo começou no magistério, quando uma professora apontou a afinidade de Rita para os números. Ao mesmo tempo, em casa, via o irmão montar e desmontar computadores e ficava intrigada. “Como isso funciona?”, questionava. Na busca por respostas, aterrissou no curso de Bacharelado em Ciência da Computação e ali firmou o compromisso com essa área que atua até hoje na Universidade.
Hoje, Rita é professora na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR-CT) em Curitiba e carrega na bagagem um mestrado em Ciência da Computação e doutorado-sanduíche na Universitat Koblenz-Landau, no Instituto West de Web Semântica, na Alemanha. Na pesquisa, a docente gosta de abraçar o mundo e trabalha com o uso de dados para o auxílio de alguma tomada de decisão. Isso significa analisar e qualificar informações para ajudar algum órgão ou empresa a tomar uma determinada decisão. Independente da área, havendo dados, a pesquisa de Rita pode encontrar objeto de estudo.
Atualmente, a pesquisa de Rita tem tudo a ver com essa edição do “Mulheres na Pesquisa”, já que Rita está focada na análise de dados para o estudo de gênero, buscando entender por qual motivo poucas mulheres assumem posições de liderança e se aventuram na área da ciência, tecnologia, engenharia e matemática na América Latina, além de estudar como modificar esse cenário.
A pesquisadora também tem um pé na extensão. Cofundadora do TIChers, o projeto busca levar para a comunidade conceitos de computação e capacitar outras professoras para ajudar alunas, a fim de criar uma corrente do bem onde cada elemento, professora e aluna, apoia o outro.
Rita reconhece que chegar onde está não foi fácil. De dificuldades financeiras a preconceito com seu jeito sociável de ser, característica que foge do estereótipo da computação, a pesquisadora precisou correr atrás dos objetivos acadêmicos com mais fôlego que a maioria dos colegas, mesmo com o apoio de bolsas e o suporte da mãe, mas ela conseguiu. Se formou, participou do Ciências sem Fronteiras, aprendeu idiomas e voltou para o Brasil com a certeza de que essa experiência foi, até o momento, a maior conquista alcançada.
Para outras mulheres, a professora aconselha: a computação hoje está mudando e procura pessoas que gostem de pensar e resolver problemas, por isso “vá atrás das oportunidades e vá entendendo qual é o espaço que tu pode ocupar e que não está sendo ocupado ainda (...) E nós mulheres temos características, sim, que falta na computação, que falta no mundo da computação (...) quem quer embarcar numa jornada de conquista, de fazer a diferença (...) procure as oportunidades certas e não se esconda atrás [das dificuldades]. Ao contrário, use isso como trampolim”.
Acredito que a pesquisa da professora alcançou até a mim. Decidi ceder um pouco do meu tempo aos números e aprendi algumas coisas. Na matemática, existem princípios básicos que são aceitos como verdade sem a necessidade de provas, os axiomas. Diria que Rita é como o Axioma de Existência, aquele que garante a existência de um objeto ou elemento dentro de um sistema, pois é por meio das empreitadas desenvolvidas pela professora na pesquisa e na extensão que outras meninas e mulheres conseguem enxergar a possibilidade de existir em um ambiente que, por vezes, não as acolhe com dignidade e respeito.