Pesquisa relaciona qualidade do ar com mobilidade e condições atmosféricas
Um estudo feito com participação de pesquisadores da UTFPR analisou a qualidade do ar no Estado brasileiro com a maior densidade populacional, São Paulo, durante a pandemia. Diversas pesquisas feitas em cidades espalhadas pelo mundo demonstraram melhora da qualidade do ar durante os períodos de restrição de mobilidade. Porém, os pesquisadores alertam que também é crucial avaliar o impacto das condições atmosféricas sobre a qualidade do ar e a dispersão dos poluentes atmosféricos. Os resultados foram publicados no artigo “How mobility restrictions policy and atmospheric conditions impacted air quality in the State of São Paulo during the COVID-19 outbreak”, do Environmental Research (v. 198, Julho 2021).
Participam dos estudos os professores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA) dos campi Apucarana e Londrina, Jorge Alberto Martins e Leila Droprinchinski Martins, além do egresso e doutorando da UFMG, Anderson Paulo Rudke, em parceria com pesquisadores de outras instituições e outros egressos do PPGEA.
Os resultados demonstram características distintas para as regiões avaliadas no estudo. Para as cidades de menor porte e centros indústrias, por exemplo, ao comparar o período analisado de 2020 com o ano de 2019, não houve uma melhora significativa da qualidade do ar. Já na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), durante a pandemia, registrou-se uma redução média de 29% em CO, 28% em NOX, 40% em NO, 19% em SO2, 15% em MP2,5, e 8% em MP10, quando comparado ao mesmo período para2019. O único poluente que apresentou aumento na concentração foi o ozônio, com aumento de 20% em relação a 2019. A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) compreende 39 cidades, incluindo a cidade de São Paulo, e corresponde atualmente a maior frota veicular do País, com cerca de 14 milhões veículos.
Nos estudos, os dados de qualidade do ar medidos em superfície (MP10, MP2,5, CO, SO2, NOX , NO2, NO e O3) foram obtidos a partir de 50 estações de monitoramento da qualidade do ar e utilizados para avaliar as mudanças nas concentrações antes (01 de janeiro - 15 de março) e durante a quarentena parcial (16 de março - 30 de junho). Dados de precipitação, queimadas e relatórios de tendências de movimentação também foram usados como informações complementares às análises.
De acordo com os levantamentos, a cidade de Cubatão, altamente industrializada, apresentou aumentos estatisticamente significativos nos dois períodos de 2020 em relação a 2019, acima de 20%, para a maioria dos poluentes monitorados. Este estudo reforça que o principal força de variabilidade da concentração de poluentes é a dinâmica da atmosfera em suas várias escalas de tempo.
“Uma estação chuvosa atípica, com precipitações acima da média antes das restrições e abaixo da média após as restrições, gerou um cenário em que as prováveis reduções significativas nas emissões não afetaram substancialmente a concentração de poluentes”, explica a professora Leila Martins.
O alerta dos pesquisadores é o de que qualquer estudo que analise os efeitos da pandemia na qualidade do ar deve levar em consideração as condições atmosféricas do período. “Negligenciar tal contribuição atmosférica pode produzir interpretações errôneas dos resultados, especialmente ao avaliar a eficácia das medidas de controle de emissões. Semanas com concentração de poluente altamente variável se alternaram ao longo do período de estudo, sugerindo que análises curtas sem considerar a sazonalidade podem levar a conclusões enganosas”, explicam.
Apesar de ser o período chuvoso, observou-se que a precipitação foi muito acima da média nos meses de janeiro a março de 2020 e abaixo da média após o surto da Covid-19.
“Como tendência, durante a estação seca (outono e inverno) a precipitação diminuiu e as concentrações aumentaram, seguindo o comportamento da sazonalidade. A precipitação acima da média antes do início das restrições pandêmicas promoveu uma redução nas concentrações dos meses anteriores ao início da pandemia em 2020, em comparação com o mesmo período de 2019”, relatam no artigo.
Além disso, os autores ressaltam que focos de queimada acima da média, nos meses após o início das restrições pandêmicas, podem ter impactado a área de estudo e, juntamente com a distribuição atípica da chuva, evitaram a melhoria na qualidade do ar devido à redução das atividades humanas das restrições.