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20/11 - Dia Nacional da Consciência Negra

20/11 - Dia Nacional da Consciência Negra

Publicado 11/19/2024, 5:33:03 PM, última modificação 11/19/2024, 5:36:30 PM
Canto por uma liberdade plena - texto do professor Sidinei Eduardo Batista

Canto por uma liberdade plena

Sidinei Eduardo Batista
Professor de Literaturas de Língua Portuguesa DALET-PB

Falo de milhões de homens
em quem deliberadamente inculcaram o medo,
o complexo de inferioridade, o tremor,
a prostração, o desespero, o servilismo.
(Aimé Césaire, Discurso sobre o colonialismo).

Os primeiros de nós – reis, rainhas, príncipes, princesas, guerreiros e guerreiras -chegaram nesta terra pouco tempo depois que ela foi invadida pelos portugueses. Nossos ancestrais, aqueles que suportaram o flagelo do translado em porões de navios negreiros, aportam neste solo com punhos e tornozelos acorrentados. Eles chegaram com lágrimas nos olhos, corpos surrados...

Mas trouxeram as nossas almas livres!

De sol a sol, sob o som alucinado do chicote, trabalhamos a terra plantando a semente, colhendo o fruto da riqueza, derrubando as matas, abrindo as estradas e erguendo as cidades do que hoje se chama Brasil; embora, assim como os nossos corpos, o fruto de nosso suor não nos pertenceu por mais de eternos trezentos e cinquenta anos.

As nossas almas livres clamaram e os nossos antepassados lutaram por corpos livres!

A liberdade veio?

Veio, todavia, aos moldes daqueles que nos aprisionaram!!

Das senzalas imundas, fomos jogados nas periferias... Das periferias, grande parte de nós, foi para a marginalidade (de um centro que nunca foi nosso), da marginalidade para os presídios e para os manicômios...

Pasmados!!

Sem entender:

Pois, o crime e a loucura, na maioria das vezes, era apenas o desejo de sermos livres plenamente, exercendo o direito de ir, de vir, de entrar, de sair, de comer, de vestir, de morar, de estudar, de compreender, de (RE)EXISTIR...

A nossa sorte é que nossos antepassados eram reis, rainhas, príncipes, princesas, guerreiros e guerreiras... Eles protegeram – com sangue e lágrimas – a música, a dança, a religiosidade, a culinária e, sobretudo, o sortilégio de Nossa Mãe África.

De cada pedaço de pele e gota de sangue que o chicote e o tronco não nos tiraram, ergueu-se a nossa tradição, regamos a nossa fé e mantemos a nossa esperança de, em breve, transformar este país – que construímos rico (e tornado desigual devido aos interesses dos escravocratas) – em um lugar onde cada irmão e irmã (preto e preta) tenha a certeza de que a liberdade pela qual almejamos desde sempre seja não apenas a das nossas almas, mas, acima de tudo, a dos nossos corpos e mentes.

É chegada a hora de nós – descendentes de reis, rainhas, príncipes, princesas, guerreiros e guerreiras – tomarmos os nossos devidos lugares como médicos e médicas, advogados e advogadas, juízes e juízas, engenheiros e engenheiras, professores e professoras; como donos e donas de casa...

 Que sejamos admitidos, sem desconfiança, nos empregos, nas escolas, nas universidades, nos comércios e que não tenhamos mais que ouvir: “Você não deveria estar aqui!”

É chegada a hora, irmãos e irmãs:

A luta de nossos antepassados valeu a pena e cabe a nós a continuidade e a conquista da nossa liberdade plena.

Re-existência para todos os filhos de Mãe África!

Zumbi e Dandara dos Palmares, presente!!

Créditos imagem: https://segredosdomundo.r7.com/deuses-africanos/, consultado em 18/11/2024

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