Aline Reis: jornalista, escritora e pesquisadora
O campus Curitiba iniciou uma campanha no dia 8 de março para destacar as mulheres da UTFPR e divulgar suas contribuições para o ensino, para a ciência, para a extensão e para a universidade pública. Nos dias oito de cada mês, entrevistamos uma destas mulheres, contamos sua história, suas contribuições e mostramos que a universidade é também o espaço da mulher.
A convidada de maio é Aline Reis, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens (PPGEL). Aline é mulher, negra, jornalista, pesquisadora e autora do livro “Paraná Preto”, elaborado em conjunto com Maria Carolina Scherner. O livro traz temas ligados às questões raciais, traçando o perfil das organizações e frentes que compõem o movimento negro no Paraná.
Você tem uma atuação na pesquisa universitária e no jornalismo. Conte um pouco de sua trajetória nesses dois espaços. Como se deu a sua formação universitária na UTFPR?
Aline: Comecei a trabalhar com jornalismo ainda antes de ingressar no ensino superior e foi uma experiência interessante de aprender fazendo. Depois, na Universidade Positivo, onde fiz a graduação, pude refinar as práticas e ter bagagem teórica. Já no mestrado na UTFPR, é possível ampliar os horizontes porque o PPGEL têm intersecções importantes para a área do jornalismo: une linguagem, tecnologia e estética na minha linha de pesquisa. Assim como fiz na graduação, agora quem me orienta é o professor Marcelo Lima, que também consegue ter uma visão ampliada e plural, propondo o cruzamento de diversas questões para o levantamento da pesquisa. Um dos pontos mais importantes na minha formação na UTFPR é justamente a visão mais ampla das diversas disciplinas sobre a linguagem e a estética que, ao mesmo tempo, convergem para meu elemento de pesquisa que é SEO (Search Engine Optimization).
Comente sobre as experiências adquiridas enquanto pesquisadora na UTFPR.
Aline: Ao longo das aulas deste primeiro semestre, o ponto mais interessante é trocar referências e impressões tanto com os professores doutores quanto com os colegas, o que deixa o processo de fundamentação da pesquisa bastante rico. Também entender de forma mais assertiva e profunda o processo de pesquisa acadêmica no programa de mestrado, que é bem diferente da graduação e pós-graduação.
Como você organiza a sua agenda de estudos e escrita? Segue alguma rotina matinal, ou algum ritual para iniciar a sua produção?
Aline: O desafio é conciliar com o trabalho - sou jornalista - logo, tenho dividido a rotina baseada, primeiramente, no horário de trabalho na redação, depois no horário das aulas e adaptando a agenda para produção.
Você é jornalista, escritora e pesquisadora, em qual dessas versões você se reconhece mais?
Aline: No jornalismo, sem dúvida. Ser jornalista me permitiu experimentar e gostar de ser pesquisadora e escritora. Então, além de ser minha formação acadêmica e também profissão, é a parte principal de como me enxergo e me enxergam no mundo.
Como surgiu a ideia do livro “Paraná Preto”, escrito por você em conjunto com Maria Carolina Scherner?
Aline: O livro é um produto produzido como trabalho de conclusão de curso da graduação em jornalismo, em 2012, na Universidade Positivo. Desde o primeiro ano já estava bem certa que gostaria de trabalhar com temas ligados às questões raciais e a Carol também era entusiasta da ideia. Ao longo dos quatro anos, amadurecemos a ideia e, com a orientação do professor Emerson Castro, tocamos o projeto. Em 2015, ele passou por uma revisão e atualização editorial e foi publicado pela editora Íthala.
Como funcionou o processo de criação do livro a qual foi a parte mais difícil ao escrevê-lo?
Aline: Trata-se de um livro-reportagem, assim, utilizamos técnicas de entrevistas, pesquisa de documentos e levantamento de dados, todas bem comuns aos jornalistas. A parte mais difícil para mim foi conciliar com o trabalho que já era de tempo integral na graduação - várias noites em claro para escrever. Por isso foi importante a revisão editorial antes da publicação.
Quais são os(as) autores(as) negros(as) que influenciam sua escrita?
Aline: Como não escrevo literatura, é difícil ter “influência”. Tanto a pesquisa quanto o jornalismo diário (ou assessoria de imprensa) têm métodos para produção, ou seja, não são um estilo. Diferente de colunas, jornalismo cultural, opinativo ou reportagens em formatos diferentes de texto, o texto do jornalismo diário é um texto simples, sem linguagem rebuscada e que precisa ser acessível para o maior número de pessoas. Às vezes, as pessoas podem não perceber, mas jornalistas de TV ou rádio também precisam escrever textos antes de falar ou gravar. Nesse sentido, preciso citar Diego Sarza, atualmente no UOL e na Band. Somos amigos desde a faculdade e uma das grandes qualidades dele é justamente noticiar de maneira simples. Então, preciso dizer que a convivência com ele na faculdade e depois o acompanhamento do trabalho como leitora, ouvinte e telespectadora tem alguma influência sobre meu trabalho.
Você já tem algum projeto para futuras obras?
Aline: O foco agora está na dissertação.
Ideia de felicidade: Não existe plenamente, apenas lampejos.
Passatempo preferido: Séries, filmes e futebol.
Traço de sua personalidade que mais admira: Sou uma pessoa bastante sociável, muito por conta da profissão.
Livro que mudou sua forma de ver o mundo: “Era dos Extremos”, de Eric Hobsbawm.
Herói ou heroína favorito(a) da ficção: Tituba, de “Eu Tituba - bruxa negra de Salem”, de Maryse Condé.
E da vida real: Não existem heróis de verdade.
Um lugar ideal: Amo vários, todos em Curitiba.
Seu lema para a vida é: Sobreviver.