Pesquisa aponta que uso do herbicida 2,4 D pode causar morte de animais
Um estudo inédito foi publicado em junho deste ano por pesquisadores do Campus Dois Vizinhos na revista científica Environmental Pollution. Através da metodologia de meta-análise, o grupo identificou os efeitos do uso do pesticida 2,4 D (ácido 2,4-diclorofenoxiacético) na mortalidade de animais.
Os resultados apresentados pelos pesquisadores Nédia de Castilhos Ghisi, Ana Paula da Silva, Elizete Rodrigues Morais e Elton Celton de Oliveira demonstraram que o 2,4 D elevou a mortalidade de animais expostos a essa substância, principalmente as aves e os peixes.
O 2,4-D é o segundo herbicida mais comercializado no Brasil e o terceiro mais utilizado no mundo. Conforme explica a professora Nédia, em nosso País, ele é aplicado principalmente para combater plantas daninhas em culturas de milho e soja. Em outras localidades ele também é bastante utilizado em lagos, para eliminar plantas indesejadas.
“O herbicida é pulverizado nas culturas, muitas vezes de forma excessiva, e acaba atingindo espécies que não seriam o alvo da iniciativa”, afirma a professora Nédia Ghisi.
Segundo a publicação, a exposição dos animais ao herbicida causa um efeito tóxico capaz de aumentar as taxas de letalidade e, no caso dos peixes, atingir estruturas mais sensíveis. “Acreditamos que as mucosas e brânquias funcionem como uma porta de entrada para o produto químico, no caso dos animais aquáticos. Mesmo não causando letalidade, ele pode alterar o comportamento ou a reprodução, causando um desequilíbrio ecológico”, destaca a pesquisadora Ana Paula da Silva.
“Para nossa pesquisa, levantamos as publicações internacionais sobre o tema, reunimos as informações e, através de ferramentas estatísticas, obtivemos os resultados apresentados”, explica Nédia.
Ao todo, para chegarem aos resultados, foram analisados 87 estudos independentes sobre o assunto. “Esses dados são preocupantes, vimos que as concentrações encontradas no meio ambiente estão de fato afetando os animais", completa Ana Paula Silva.
Em 2019, após rumores e publicações dos efeitos deste herbicida em humanos, a Anvisa fez uma nova resolução, a qual manteve a liberação do seu uso no Brasil, estabelecendo normas para sua utilização.
Em Humanos
Segundo as pesquisadoras, o grupo estuda os efeitos de pesticidas em humanos também, desde 2016. “Pesquisas já demonstraram que pessoas expostas a estas substâncias têm maior incidência de mutações que podem ocasionar o desenvolvimento de cânceres, por exemplo. Observamos também que na exposição oral, como na ingestão de alimentos com esses resíduos, não foram identificadas elevações significativas na ocorrência de mutações, porém, na exposição tópica, ou seja, na pele ou por inalação, foram constatados”, destaca Nédia.
O grupo vai continuar realizando análises laboratoriais para avaliação dos efeitos do 2,4-D, através de um projeto financiado pelo CNPq. “O uso excessivo e incorreto deste pesticida e outros pode gerar inúmeros riscos ao meio ambiente e à saúde humana. O uso de concentrações elevadas, com resíduos gerados acima do permitido, embalagens descartadas de forma errada, são só alguns dos exemplos. Há necessidade urgente de prospectar tecnologias mais limpas e ambientalmente mais seguras na produção de alimentos”, completa.
As análises são feitas nos laboratórios do Campus Dois Vizinhos e conduzidas dentro dos Programas de Pós-Graduação em Agroecossistemas e em Biotecnologia.