Descoberta promissora
Uma pesquisa desenvolvida pelo discente Bruno Henrique Fontoura, durante seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos do Campus Pato Branco (PPGTP-PB), sob orientação da professora Solange Teresinha Carpes, do PPGTP-PB, apresentou descobertas promissoras acerca do potencial terapêutico da planta nativa Piper corcovadensis, comumente encontrada em áreas de Floresta Amazônica. O estudo investigou o óleo essencial de Piper corcovadensis e revelou propriedades antioxidantes, antimicrobianas e citotóxicas.
Popularmente conhecida como João Brandinho, a Piper corcovadensis é nativa da região Norte do Brasil, sendo muito utilizada pelos povos amazônicos por suas propriedades analgésicas. A pesquisa explorou o potencial do óleo essencial da Piper corcovadensis como fonte de compostos terapêuticos para combater o melanoma cutâneo, forma altamente agressiva de câncer de pele.
Os pesquisadores iniciaram o estudo com a caracterização química do óleo essencial usando cromatografia gasosa, uma técnica que permite a separação e identificação dos compostos presentes. Com base nos resultados, concluíram que o óleo essencial de João Brandinho apresenta boas propriedades antioxidantes e antimicrobianas, que podem auxiliar na proteção de células saudáveis, no combate ao estresse oxidativo e no fortalecimento do sistema imunológico de indivíduos afetados pela doença.
Eles explicam que a ocorrência desta atividade demonstra sua capacidade em proteger as células dos danos provocados pelos radicais livres, naturalmente presentes em nosso organismo, mas que, em desequilíbrio, podem levar ao surgimento de uma série de doenças degenerativas, como “mal de Parkinson”, envelhecimento precoce e diversos tipos de câncer.
Em parceria com a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), os pesquisadores se reuniram com a professora Margarete Dulce Bagatini (Campus Chapecó) a fim de investigar o potencial citotóxico da Piper corcovadensis. Em outras palavras, buscaram entender se o óleo essencial possui efeito tóxico sobre determinadas células e se poderia afetar negativamente as células saudáveis. Juntos, os pesquisadores descobriram que o óleo essencial não apresenta riscos à saúde celular, reforçando sua segurança e eficácia para utilização em seres humanos.
Embora os estudos sejam preliminares, destaca-se que o achado mais promissor deste estudo foi a notável capacidade desse óleo essencial de induzir a morte celular em células de melanoma cutâneo, as quais têm alto potencial metastático, ou seja, quando as células cancerosas se desprendem do tumor original e formam outros tumores em outras partes do corpo. Tal descoberta abre portas para a realização de novas pesquisas, que podem auxiliar no desenvolvimento de terapias complementares para o tratamento de infecções bacterianas, bem como na sua utilização como tratamento para outros tipos de células cancerígenas. Além disso, esses avanços podem eventualmente resultar em terapias mais eficazes e com menos efeitos colaterais quando combinadas com os tratamentos convencionais.
Assim, espera-se que tais investigações promovam uma visão mais holística e sustentável da saúde e da alimentação, aproveitando os recursos naturais de forma responsável e benéfica para a sociedade. Essas pesquisas não apenas lançam luz sobre as propriedades até então pouco exploradas desses compostos, mas também oferecem um ponto de partida crucial para o desenvolvimento de novos fármacos.
A pesquisa conduzida pelo Grupo de Estudo em Pesquisa de Produtos Naturais e Alimentos (GEPPNA) da UTFPR Campus Pato Branco , liderado pela professora Solange, foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com bolsa concedida ao discente, e pela UTFPR, por meio de editais internos de fomento à pesquisa.
Em março de 2024, os pesquisadoresdo GEPPNA publicaram um artigo no periódico Saudi Pharmaceutical Journal apresentando os resultados da pesquisa. Devido à relevância dos dados coletados, os estudos sobre a Piper corcovadensis estão em andamento. O grupo está explorando outras partes da planta e diferentes métodos de extração dos compostos bioativos, incluindo sua formulação em nanopartículas.
Atualmente, Bruno Henrique Fontoura, autor do trabalho, é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Agronomia (PPGAG) da UTFPR-PB. Sob a orientação do professor José Abramo Marchese, do PPGAG-PB, e co-orientação da professora Solange Teresinha Carpes, do PPGTP-PB, ele está trabalhando com outras plantas de reconhecido potencial medicinal no Grupo de Pesquisa em Bioprospecção de Moléculas e Indução de Resistência.