Tese da UTFPR recebe menção honrosa em premiação da Capes
O pesquisador da UTFPR Jean Filipe Fávaro recebeu menção honrosa no Prêmio Capes 2024, o “Oscar” da ciência brasileira. Ele foi reconhecido com a tese sobre as territorialidades do Axé da Região Sudoeste do Paraná, defendida no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) no Campus Pato Branco .
A tese oferece uma perspectiva nova sobre os territórios sagrados afrorreligiosos, sob a orientação de Hieda Corona e coorientação de João Daniel Ramos, professores da UTFPR. Com isso, aborda as múltiplas territorialidades, colocando dois terreiros como forças contra hegemônicas em Pato Branco : o Abaça de Oxalá, do Pai Aldacir, e o Encruzilhada do Axé, do próprio pesquisador. “Essa pesquisa etnográfica se alicerça no arsenal proposto pela Teoria Ator-Rede, de conceitos oriundos da filosofia da diferença, dialogando com as críticas decoloniais na problematização da ontologia moderna e do desenvolvimentismo, diz um trecho da tese”, afirma o autor.
O pesquisador trouxe a encruzilhada como expressão dos encontros e como ferramenta para “desmantelar a colonialidade”. Para ele, o reconhecimento demonstra a importância do estudo para os povos de terreiro e o Movimento Negro. O estudo gerou diversas publicações em revistas A1, A2, A3 e A4 e também participações em eventos para combater o racismo religioso que, segundo Fávaro, faz parte do racismo estrutural. “Então, a gente está tratando de um tema que envolve violência e das medidas para poder superá-la, tanto que a tese foi contemplada com a menção honrosa, não na Antropologia, mas no Desenvolvimento. Isso também mostra que existem várias outras lógicas que o desenvolvimentismo não dá conta de contemplar”, explicou.
Por estar no PPGDR, que é um programa interdisciplinar, o autor conta que conseguiu fazer a ligação entre as Ciências Humanas e as da Natureza, fazendo referência a especialistas sobre questões decoloniais e etnográficas. “Existe um arcabouço teórico, principalmente na disciplina de Epistemologia Socioambiental, que traz uma base para a gente discutir esses temas humanos. A partir desta disciplina, assim como outras, pude ter o acesso aos decoloniais e à teoria Ator-Rede, e conheci a Etnografia, que emerge como uma potência para evidenciar as lógicas dos grupos tradicionais”, explica o pesquisador.
Outra discussão importante da tese é inserir o pesquisador não só como observador, mas como membro da coletividade. “Diversos autores da perspectiva decolonial apontam que há uma potência estar inserido no grupo e estar pesquisando sobre aquele grupo. E existe também um arcabouço metodológico que permite justificar essa presença, sendo o observador, mas também sendo o participante (...) não se trata apenas de uma experiência minha, mas uma experiência coletiva afrorreligiosa”, analisa.
Confira o trabalho disponível no Repositório da UTFPR.
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O Prêmio Capes de Tese reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado, defendidos em programas de pós-graduação brasileiros. Os critérios são: originalidade, relevância científica, tecnológica, cultural, social e de inovação e o valor agregado pelo sistema educacional.
Foto: Assentamento do Exu do Ouro (lado esquerdo) e firmeza do Exu Chamadinheiro (lado direito) no conga do Abaça de Oxalá. Fonte: acervo fotográfico de Cambone Iva (2021)