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Dia da Consciência Negra deve ser / é o da consciência de todos

Dia da Consciência Negra deve ser / é o da consciência de todos

Publicado 11/19/2024, 7:10:18 PM, última modificação 11/21/2024, 9:35:29 AM
Reflexões sobre racismo e desafios contemporâneos são temas de eventos na UTFPR-PB

Texto: Aruanã Antonio dos Passos - Professor do Departamento Acadêmico de Ciências Humanas (DAHUM)

O chamado “Dia da Consciência negra” ou dia de Zumbi, em referência ao grande líder Zumbi dos Palmares (1655-1695), coloca em perspectiva a formação mais profunda do que chamamos de Brasil. Momento de rememoração, a efeméride nos permite analisar, uma vez mais, a contribuição monumental dos negros em nossa história, mas também sua presença nas lutas e embates do presente por uma sociedade mais justa, menos desigual. Diante de tantos nomes fundamentais da luta antirracista em nosso contexto nesta data, gostaria de trazer à tona o tema de minhas investigações já alguns bons anos: o filósofo, peta e jurista sergipano negro Tobias Barreto de Menezes (1839-1889). Para tanto, será necessário um breve contexto dessa aventura que é o estudo das ideias deste brasileiro notável.

Ao final de meu mestrado me deparei em um processo criminal – documentos produzidos na Comarca de Clevelândia entre as décadas de 1910 a 1940 – em que o advogado de defesa fazia menção a uma citação famosa de Barreto: “o Direito é a força que matou a própria força”. A partir de então, passei a investigar suas ideias. Dentre muitos de seus feitos, homem negro num Brasil escravocrata, Tobias Barreto utilizou do intelecto como arma de luta e ascensão social. Assumiu uma cátedra na Faculdade de Direito do Recife nos últimos anos de sua vida, depois de dois concursos prestados, sendo que em um havia passado em primeiro lugar e preterido pelo segundo colocado. Divulgador das ideias mais avançadas de sua época, crítico ferino do Império e da filosofia oficial da Primeira República (o Positivismo), Tobias propôs o abandono da cultura francesa e a “adesão” às ideias germânicas que adotou como profissão de fé. Hoje, a Faculdade de Direito do Recife é chamada de “Casa de Tobias”. Morreu na pobreza com uma pensão por doença negada. Sua viúva na ocasião de sua morte não permitiu que seu crânio fosse aberto e seu cérebro fosse estudado, como era do interesse dos médicos da época.

Para além das questões teóricas e historiográficas que pude desenvolver (e ainda procuro evoluir) a partir de personagem tão fascinante, aprendi algo mais fundamental com Tobias Barreto: a síntese da nossa tragédia. Ela se define nos seguintes termos: país rico em talentos, marcado pelo atraso e descaso de nossas instituições e elites para com a força e talento de sua gente. Felizmente, suas obras foram registradas e preservadas por seu amigo Sílvio Romero (1851-1914), o que nos permite traçar esse breve esboço de seu perfil intelectual e pessoal. Deixo aqui registrada minha homenagem a esta potência negra de nossa cultura. Por fim, importa destacar que o combate ao racismo e o reconhecimento da cultura negra é tarefa permanente e em construção. Que no dia de hoje possamos reconhecer que o caminho é longo, mas que toda jornada começa com um primeiro passo, e esse passo deve ser dado por todos nós a cada dia. 

Essas reflexões sobre racismo e o reconhecimento da cultura negra dialogam diretamente com as discussões propostas pelo Simpósio “Ciência, Poder e Sociedade” e pelo I Seminário “Sudoeste do Paraná: problemas contemporâneos, perspectivas históricas”, que abordam a relevância da ciência, dos intelectuais e das identidades na sociedade contemporânea. Ambos os eventos oferecem um espaço de debate sobre o papel transformador do conhecimento e da memória histórica na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, alinhando-se ao legado de figuras como Tobias Barreto e à luta antirracista permanente.

Datas: 25, 26 e 27/11/2024
Horário: das 08h às 12h
Local: Sala de Treinamento da UTFPR-PB (ou on-line)
Inscrições abertas no site do evento.

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